Estou com dengue. Isso significa que, assim como
muitos amigos de Campinas e região, passarei os próximos dias de molho,
acompanhado pelas dores e pelo desânimo. Qual o sentido, então, de
pensar em músicas para enfrentar a dengue?
Nunca fui adepto de filosofias
transcendentais-místicas-quânticas-holísticas e nem do poder das energias do
cosmos. Mas se há uma coisa que realmente interfere no meu humor é a música.
Assim, se sua dor de cabeça não está tão forte, recomendo uma pequena lista de
músicas para alegrar seus próximos dias. São canções felizes e tranquilas que
não vão acabar com os sintomas, mas certamente podem arrancar sorrisos e
sensações agradáveis.
1 - Marcelo Jeneci - Pra Sonhar
Nada mais feliz que cenas reais de pessoas se casando, ao som de
uma música belíssima.
2 - The Faces - Ooh La La
Letra feliz, melodia feliz e contagiante.
3 - Edu Sereno - Rotina
"Papararararara"
4 - Billie Holiday - Can't Help Lovin' Dat Man
Uma canção suave e romântica, com a sonoridade agradável dos anos
40.
5 - Edward Sharpe and the Magnetic Zeros - River of Love
Vejam essa gravação: o guitarrista tem um chapéu feito de mato. A
vocalista chacoalha os braços enquanto canta. Pode haver algo mais feliz que
isso?
6 - Citizen Cope - Every Waking Moment
"Every waking moment I'm alive I'm searching for
you". Aliás, recomendo tudo desse cara.
7 - Silva - A Visita
Mais um artista da nova geração brasileira que mistura ritmos,
estilos e instrumentos diferentes.
8 - Mutantes - Vida de Cachorro
Mutantes são legais, cachorros são legais. Uma música dos Mutantes
sobre cachorros é, portanto, essencialmente feliz.
9 - Blind Melon - No Rain
Um dos clipes mais bonitinhos de todos os tempos.
10 - Edith Piaf - Je Ne Veux Pas Travailler
Afinal, quem quer trabalhar com dengue?
11 - John Butler - Losing You
Um belíssimo dueto envolvente e profundo.
12 - The Shire Theme Song - O Senhor dos Anéis
Feche os olhos e imagine-se saltitando pelas colinas do
Condado.
Quem procura por R&B e Soul no youtube em 2014 acaba
encontrando, em sua maioria, vídeos de artistas de rap e hip hop. Ao longo
do século XX, o Rythm & Blues sofreu diversas alterações, de
modo que essa designação represente hoje um estilo completamente diferente da
sonoridade que se tornou popular nos anos 50 e 60, com grande importância dos
músicos negros do sul dos EUA. Neste período, o gênero foi um predecessor do rock n’ roll e mesclava estilos como o soul, o jazz, o blues e a música gospel, tornando-se consagrado nas vozes
de artistas como Ray Charles, Etta James e Otis Redding (clique aqui para ver um vídeo que reúne trechos de grandes músicas desse estilo nos anos 60). Deixemos de lado, no
entanto, os “rótulos”. Todo gênero musical é híbrido, heterogêneo e engloba
diversas naturezas sonoras. Assim, para apreciar o R&B e o Soul, mais importante que uma designação
fechada é reconhecer e se deleitar com suas marcas características: trata-se de
canções românticas, com letras simples e dramáticas, melodias suaves, melancólicas
e sensuais. Os arranjos, de modo geral, trazem os acordes constantes do piano,
a marcação precisa da guitarra e o choro do órgão gospel. Refiro-me a esta
sonoridade, a estas músicas que ouvimos de olhos fechados e com expressão de
sofrimento no rosto. É a este gênero rico e diverso que me refiro quando aponto
o surgimento de uma “nova geração”.
Os saudosistas, certamente, dirão que os
artistas do século XXI não servem para lustrar os microfones de nomes como
Aretha Franklin e Sam Cooke. Entretanto, comparações nostálgicas servem apenas
para tirar o brilho de músicos contemporâneos que possuem qualidades inegáveis.
Assim, desta chamada “nova geração” Soul,
talvez o nome mais popular seja Amy
Winehouse. Com suas letras nada ingênuas, Amy chegou ao auge com músicas
que mesclavam o pop, o jazz e soul. O francês Ben L’Oncle
Soul, depois de surgir com sua versão soul
de “Seven Nation Army”, consolidou-se
no R&B depois de assinar contrato com a gravadora americana Motown, aquela mesma que gravou com
Jackson’s 5, Marvin Gaye e The Temptations nos anos 60, graças a sonoridade vintage de suas canções. Alicia Keys, com sua voz encorpada e
músicas românticas acompanhadas pelo piano, representa bem o soul melancólico em sua versão pop dos últimos anos. Já a galesa Duffy, depois de surgir com o hit “Mercy”, despontou no Reino Unido com
canções mais lentas e sofridas, como “Warwick
Avenue”. Joss Stone, com seu
visual “Janis Joplin do século XXI” e sua voz grave e poderosa, é mais uma
artista que surgiu com covers de soul
music antes de se tornar um sucesso. Por sua vez, o canadense Michael Bublé, no início dos anos 2000,
colocou novamente em evidência a sonoridade do R&B ao som das Big
Bands de jazz e swing dos anos 40, em uma nova roupagem pop.
Ray Charles, Etta James, Aretha Franklin e Otis Redding:
nomes consagrados do R&B e do Soul dos anos 60
É perceptível, nesses últimos anos, a
tendência de uma retomada de sonoridades nostálgicas, mas com elementos
contemporâneos. Paloma Faith, com
seu visual extravagante que parece ter saído de um filme de Tim Burton, mescla a voz com timbre grave e característica do soul
com sintetizadores, efeitos e batidas eletrônicas. A representante brasileira
desta “nova geração” é CéU, que
mistura o R&B com a MPB e Bossa Nova. Já o havaiano Bruno Mars, em meio aos inúmeros hits
de sucesso mundial, possui canções incríveis com fortíssima influência do R&B, como “If I Knew” e “Gorilla”, com exibições ao vivo
invejáveis. A portuguesa Aurea
expressa, com a canção “Busy for me”,
a essência do R&B dos anos 50: a sensualidade do arranjo,
a voz encorpada e a temática simples e melancólica, No clipe, a intérprete
aparece aos prantos enquanto canta: “Eu tentei te ligar, mas você não atendeu”.
Beyoncé, obviamente, é conhecida por
ser uma diva do pop. No entanto, sua
caracterização de Etta James, para o filme Cadillac
Records, de 2008, trouxe novamente à tona os sucessos da Rainha do Soul,
com regravações incríveis. John Mayer,
além de suas inegáveis qualidades como guitarrista, mescla o pop e o blues, com a batida característica do soul dos anos 60. Na versão ao vivo de “Gravity”, por exemplo, o americano toca trechos de “I’ve got dreams to remember”, de Otis
Redding.
Por fim, nota-se, nessa chamada “nova geração”,
uma retomada do R&B e do soul dos anos 50 e 60, tanto no visual quanto na sonoridade
melancólica, dramática e sensual. Enquanto nos anos 50 esse estilo era um tanto
quanto restrito aos negros dos EUA, hoje se percebe uma diversificação em sua
produção. Há também, sem dúvidas, uma nova roupagem pop dos tempos atuais para esse estilo, mas que não tira o brilho das
belas canções. Para aqueles que apreciam ou gostariam de conhecer mais desse
estilo, deixo aqui uma lista de reprodução com uma seleção das minhas músicas
favoritas com essa batida romântica e melancólica, e alguns dos diversos subgêneros contemporâneos.